December 3, 2007

Daqui de cima

Daqui, do alto de um prédio qualquer do Maculusso, observo a cidade ser envolvida por um calor que deixa tudo apático e sonolento, o dia brilha sua luz intensa e cheia de polaridades. As nuvens do cassimbo agora são uma lembrança distante. Lá embaixo, sob o sol nervoso, as zungeiras destilam conversas enquanto calmamente vendem frutas, imunes a tudo. Passantes observam e seguem os seus destinos diários. Um homem de fardo azul escuro sonha com a neve sob o sol de 40graus. Perto do Natal todos os sonhos costumam virar realidade, mesmo aqui, em Luanda, onde tudo é beleza e caos, e onde esses elementos se alinham numa métrica única, numa dissonância quase melódica. Cada passo da multidão lá embaixo é um metrônomo que rege essa musica urbana feita de torres, guindastes, tratores, máquinas e gente apressada. São apenas 4 horas desde o último sono, despertado ainda cedo, mas, lá embaixo, a cidade. Essa realidade que carrega um grau de distopia tão grande, uma anomalia social de difícil entendimento. Nessa interzona, onde emoções e sentimentos se constroem e se desfazem com uma rapidez vertiginosa, os olhos são levados a caminhos que desaguam em outros e outros tornando-se muitas vezes dúvidas e labirintos, mais do que certezas. Mas lá embaixo, a cidade. E só a cidade. André Urso, blablablog



Não o conheço pessoalmente, mas sou fã de carteirinha. Esse cara é uma mente brilhante de palavras doces. Meu blog Angolano de leitura diária. Freaky fan!

November 25, 2007

quer casar? pergunte-me como.

O assunto agora é casamento. Mas e aí como é a cerimônia de casamento dos angolanos? Cantos tribais? Muita cor? muita energia? alguma tradição diferente? Não faço a mais vaga idéia!!! Mas recebi um vídeo gentilmente cedido por um colega de trabalho, angolano, que me fez rir por pelo menos 2 horas ininterruptas.

Longe de mim fazer graça do povo angolano. Se fosse um casal brasileiro, americano ou russo, eu acharia graça do mesmo jeito. Esse meu colega, casará no dia 8 próximo, então surgiu o papo de casamento que o fez lembrar de nos mostrar a coisa mais bizarra que ele já viu em Angola.

É normal em casamentos no mundo todo, após a cerimônia, os noivos vão para lugares românticos para tirar 4.586 fotografias pra depois escolher 12 e colocar no álbum cafoninha de casamento e guardar como recordação e olhar mais outras duas vezes na vida. Correndo o risco de se houver separação, ter todas as páginas filetadas a ouro, rasgadas e queimadas em uma fogueira de encruzilhada, desejando que o filho da puta broche eternamente e aquela bisca morra. (ui, desabafei!)

Mas voltando a bizarrice do nosso casal da vez... Eis que meu caro colega estava sentado na praça de alimentação do shopping mais chique da cidade quando de repente... Assista!!!!

November 19, 2007

benguela

Procurei até meu braço cair, alguma coisa sobre a história de Benguela pra ter um fundo mais fundamentado no meu post. Infelizmente não achei nada nem em Inglês, Espanhol, Esperanto ou na língua dos teletubies. Então vai aí um link para as fotos da viagem. Saímos às 6h da manhã, Capitão, Seu 03, Seu 02, e eu, o Aspira (tudo isso, por conta do filme Tropa de Elite, assistam.. É viciante!) Mas voltando para a viagem... O caminho é tortuoso, uma mulher grávida com o peito cheio de leite, viraria manteiga. Porém, a paisagem é de cair o queixo. São árvores de todos os formatos, quilômetros de mar azul turquesa, praias giganteeeescas, e gente andando no meio do nada. Se abrir a janela vai respirar poeira e cuspir tijolo, mas vale a pena pra garantir uma boa fotografia.

Hoje eu não estou estou de muitas palavras, mas estou pra lá de fotografias.
Confira aqui!

Freaky adora viajar

November 16, 2007

minha metade angolana

Cai a tarde em Luanda. 17h e o sol arde como meio dia. Entre relatórios e anotações tiro o fone de ouvido para beber um copo d'água e deixo Mat Kearney cantarolando by himself. O som agora é outro, o sotaque é diferente e de repente as pessoas a minha volta me parecem estranhas. Um mês em Angola. Ai meu Deus eu to na Africa?! Um mês depois e a ficha caiu. É engraçado como nos habituamos a correria e nem percebemos que tudo mudou, que você mudou, seus valores mudaram, seus amigos mudaram, seu endereço mudou, que o mundo não parou de girar. Senti saudade de casa.

É como se eu estivesse dividida esquizofrenicamente ao meio. Metade de mim já mora aqui faz tempo e leva uma vida sossegada cheia de amigos queridos, trabalhando durante a semana e indo à praia nos finais de semana. A outra metade sente perdida em algum lugar, presa a alguma coisa. Angústia escrota, é uma expressão perfeita pra definir. Sentimento seguido de palavrão, não necessariamente nessa ordem. Um explica e o outro quantifica.

November 8, 2007

a palavra é: rabo!


O que você, mulher ou homem faria se alguém dissesse que você tem um rabinho empinado ou um cuzinho muito bonitinho? Há um mês atrás eu viraria um tapa bem no meio da fuça do sujeito. Bem a verdade é que, dependendo do sujeito, eu ainda viraria o mesmo tapa dependendo do grau do gracejo. O fato é que, rabo ou cú em Portugal, Timor Leste, Angola e demais países de língua portuguesa, com exceção do Brasil, usam essas palavras para descrever aquilo que nós chamamos de bunda, bumbum, traseiro, pandeiro, popô ou chula (para as desprovidas). Não sei com o que as mães alimentam seus filhos por aqui, só sei que em Angola não existe desbundado.

A definição já entendemos, cheguemos então a prática. Vale ressaltar que o corpo da angolana é fantástico. Tudo no lugar, celulite aqui não chegou, barriga - o que é isso? - sutiã, hein?! Sempre com pouca roupa e muito conteúdo, elas andam por aí com suas bundinhas, digo rabos, a balançar e enlouquecer os marmanjos que passam.


concorrência injusta


Eu, agora só vou à praia de burca. Última moda para as branquelas azedas do pedaço. Ah, não! Chega a ser injusto. O tamanho nunca é proporcional ao tamanho da negrinha, mas mesmo assim o conjunto é harmonioso. Ovaladas, as bandinhas se sincronizam e robolado é perfeito. Os tons variam de chocolate ao ébano, mas a textura é de veludo. Dentro das calças jeans apertadíssimas ou num fim dental na praia, eu sou mulher, com muito gosto e fã dos cuzinhos de Angola.

P.S: Hoje, saindo da sala de reuniões, ganhei um fiu-fiu de um angolano. A dúvida que paira é: será que ele achou o meu rabo digno das angolanas ou exótico? Malhação djá!

November 7, 2007

November 6, 2007

isto é áfrica? não mesmo!

"Aconteceu na versão da África do Sul. A imagem de uma participante do Big Brother sendo estuprada por um outro interno na casa televisiva de Johanesburgo embrulhou o estômago de milhões de espectadores do programa sul-africano, de acordo com a revista "First Post".

Uma enxurrada de mensagens por e-mail atravessou jornais, sites e canais de televisão. Ultraje coletivo no país que ainda cura as feridas do apartheid.

As câmeras indiscretas flagraram o estudante de cinema Richard Bezuidenhout (foto), de 24 anos, originário da Tanzânia, atacando a auxiliar de enfermagem Ofunneka Molokwu, de 29 anos, nascida na Nigéria e que estava bêbada no momento da agressão sexual.

Quem assistiu à cena descreve: Richard caminhou até Ofunneka, que, aparentemente, estava em coma alcoólico, e penetrou sua vagina com os dedos. Ele continuou a investida, apesar dos apelos de outras participantes para que parasse. Depois do ataque, o tanzaniano se afastou e foi se sentar distante. As câmeras ainda o flagraram cheirando os próprios dedos.

Mais de um milhão de pessoas têm assinatura do Big Brother na África do Sul.

Para a grande maioria, os funcionários da Endemol, empresa holandesa que detém os direitos do programa no mundo todo, deveriam ter agido para impedir a relação não-consensual.

Segundo a lei da África do Sul - onde, a cada 40 segundos, uma mulher é abusada sexualmente, em média - tal ato constitui estupro.

Richard, que é casado, defendeu seu criminoso comportamento sexual assim: "Bem, isto é a África".

Horripilante, não?"


Extraído do blog de Fernando Moreira http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/

To bege até agora...

um clássico



essa a[freak]ana nem precisa dizer que é música tema
enjoy it!

November 5, 2007

movicel live fest 2007


O Movicel Live Fest 2007 aconteceu no dia 27 de Outubro. Recheado de atrações nacionais e internacionais, o festival reuniu 20.000 pessoas no Estádio Cidadela, em Luanda. Afreakana estava lá, conferindo de pertinho o povo angolano se jogando.

Foram 8 atrações de levantar poeira. A noite abriu com Dji Tafinha, rapper angolano, seguido por Yuri da Cunha, cantor de Semba (não é samba). Os Lambas, banda de KUDURO (assunto pra um único post), Fally Pupa, Paulo Flores (muuuito bom). Alpha Blondy chegou ahazando com reggaes de sucesso das antigas. Nelson Freitas me emocionou. O cara levantou a galera, foi de arrepiar quando ele cantou You're beautiful. E finalmente, entra Joelma e Chimbinha, a banda Calypso. Nunca vi tanta gente pulando... e gritando "acelerou, acelerou, acelerou meu coração" vale a pena conferir o videozinho no You Tube, do Calypso no Domingão do Faustão!!!

+ fotos? Acesse djá!

el buracón


Tem coisas que só acontecem comigo. Hoje ao sair da empresa em que trabalho para ir pra casa almoçar, por volta das 13h, a rua começa a trepidar. A Rua Major Kayangulo, conhecida como a Rua do Bingo, foi invadida pelas águas pluviais de Luanda.

Estávamos no trânsito no meio da rua, quando Johnny, nosso motorista, diz "Sr. Mouraci o chão está a levantaire". Moura, um dos integrantes da casa onde eu moro grita "Sai todo mundo do carro!!!" Eu estava no banco de trás e nem vi o que estava acontecendo direito. Só obedeci. Peguei a bolsa e saí correndo no meio da muvuca. Quando atingi a calçada e me viro pra olhar a rua, minha boca quase cai no chão de susto. O asfalto, como uma bolha de sabão. O chão dilatou e uma enorme bolha de concreto surgiu do chão, no meio da rua. Algo em torno de 20 metros de extensão. Por baixo parece que passa um rio, esgoto, lençol freático, independence day, sei lá! Só sei que vi pequenas fissuras jorrando água e quando um espertão num mega caminhão passou por cima da bolha, ela não estourou, logicamente. É asfalto mas não é tão casca de ovo, ou é?!

O caminhão passou, a bolha rachou e começou a descer, engolindo o asfalto que restou. Foi grotesco... Chão descendo e água subindo pra todo lado. No meio dessa confusão, nosso herói, o Johnny, acelerou nosso carrinho e se mandou pro outro lado. Doido de amarrar em poste! Numa dessas, ia ele, carro, tudo por água abaixo. E eu lá, parada no meio da galera com boca aberta de boba. Até parece que nunca viu o chão abrir... Pelo menos depois dessa eu nunca mais uso a expressão "Nossa, eu quero que abra um buraco no chão pra eu me jogar dentro" Nuuuuncaaa.

Depois de resgatada pelo Moura, entramos no carro voador/ flutuador e fomos pra casa almoçar e contar o episódio. Na volta, encontramos essa cena. Um caminhãozinho virado dentro do buraco. Se o cara que o dirigia não morreu afogado ali mesmo, minimamente foi levado pela correnteza até a baía. A sensação? Óbvio que só se pensa "Ai meu Deus, podia ter sido eu..." M-E-D-O!

October 31, 2007

freaky

Quando eu decidi escrever esse blog foi meio no oba oba, por conta da minha amiga Guta, que me alugou um tempão, lembrando do meu antigo blog a respeito das minhas viagens. Viagens uma pinóia, né? Escrevi até a França e deixei tudo pra trás e a partir daí em diante, o pobre foi solenemente abandonado. A freak ana, é por incrível que pareça um nome carinhoso. Eu sabia que uma vez na África, eu, das mais diversas maneiras iria pirar.

Pirar com a riqueza da cultura, da música, da língua, das cores, dos sabores e dos amores. Pirar com a sujeira, a pobreza das ruas, as doenças, a fome… a miséria. Cá estou há duas semanas, e a pergunta que mais odeio quando me fazem aqui é: “Qual foi a sua primeira impressão?” Porra! (Essa é minha primeira resposta tanto para o alto staff quanto para a minha gente) É o tipo de pergunta cretina que você fica sem escapatória para responder. Se disser, “ah é normal”, é mentira. “ah muito sujo e muito pobre né?”, é muito óbvio e beira a idiotice da falta de opinião formada. O mais elaborado que consegui até agora foi “Ah, já estive em Timor Leste. Angola é pinto!”. Fora o meu deboche habitual e o meu sarcasmo genético, continua sendo tudo mentira. A primeira visão é de choque total. É de querer sair correndo e voltar pro avião, chegar em casa, abraçar a minha mãe e continuar a levar a minha vida de princesa. Daí bate a vergonha, do tipo “Pô, mó vacilo dar pra trás agora”. Vacilo é mesmo. Muita expectativa e gente envolvida. Mas que rola esse cagaço, rola meeeesmo.

Então você substitui essa primeira sensação por uma outra, utilizando como justificativa a questão da limpeza e praticidade. Então a minha segunda-primeira-visão é de pegar uma vassoura e sair recolhendo primeiro todo o lixo que tem esparramado. Pegar uma tina imensa de água rasa e dar banho em todas as criancinhas de menos de 3 anos que andam nas ruas sozinhas. Colocar todas as mães das mesmas criancinhas em fila e dar na cara de todas elas. Depois dá vontade de procurar quem regula a temperatura por aqui e mandar baixar o sol, ô calorzinho danado! Pinga suor até debaixo da unha, quando de repente vem mais um abençoado e diz “você ainda não viu o sol de fevereiro”.

Passando o cinturão de miséria, no caminho de ida do aeroporto para casa, finalmente atingimos os cinturão de pobreza. Onde, os barracos da favela (ou musseques) desaparecem e prédios em condições deploráveis tomam conta da paisagem. Maloca total. É roupa pendurada pra tudo quanto é canto e uma poeira que sobe a níveis estratosféricos. Logo alcançamos o que nós expatriados chamamos de cidade alta, uns metros acima do nível do mar de onde se vê a baia, o porto e a ilha de Luanda, parte baladeira da cidade. Minha casa, bairro Miramar, onde o nome já explica a beleza do que de lá se avista.

Olhar o mar é sempre uma surpresa. Daqui da Africa, é como se olhar o Brasil de longe, de dentro da água. Uma água azul que mascara um pouco da pobreza e da miséria. Uma terra promissora, do diamante ao petróleo, da história de nossos ancestrais. Da história do avesso. Do outro lado de quem conta.