October 31, 2007

freaky

Quando eu decidi escrever esse blog foi meio no oba oba, por conta da minha amiga Guta, que me alugou um tempão, lembrando do meu antigo blog a respeito das minhas viagens. Viagens uma pinóia, né? Escrevi até a França e deixei tudo pra trás e a partir daí em diante, o pobre foi solenemente abandonado. A freak ana, é por incrível que pareça um nome carinhoso. Eu sabia que uma vez na África, eu, das mais diversas maneiras iria pirar.

Pirar com a riqueza da cultura, da música, da língua, das cores, dos sabores e dos amores. Pirar com a sujeira, a pobreza das ruas, as doenças, a fome… a miséria. Cá estou há duas semanas, e a pergunta que mais odeio quando me fazem aqui é: “Qual foi a sua primeira impressão?” Porra! (Essa é minha primeira resposta tanto para o alto staff quanto para a minha gente) É o tipo de pergunta cretina que você fica sem escapatória para responder. Se disser, “ah é normal”, é mentira. “ah muito sujo e muito pobre né?”, é muito óbvio e beira a idiotice da falta de opinião formada. O mais elaborado que consegui até agora foi “Ah, já estive em Timor Leste. Angola é pinto!”. Fora o meu deboche habitual e o meu sarcasmo genético, continua sendo tudo mentira. A primeira visão é de choque total. É de querer sair correndo e voltar pro avião, chegar em casa, abraçar a minha mãe e continuar a levar a minha vida de princesa. Daí bate a vergonha, do tipo “Pô, mó vacilo dar pra trás agora”. Vacilo é mesmo. Muita expectativa e gente envolvida. Mas que rola esse cagaço, rola meeeesmo.

Então você substitui essa primeira sensação por uma outra, utilizando como justificativa a questão da limpeza e praticidade. Então a minha segunda-primeira-visão é de pegar uma vassoura e sair recolhendo primeiro todo o lixo que tem esparramado. Pegar uma tina imensa de água rasa e dar banho em todas as criancinhas de menos de 3 anos que andam nas ruas sozinhas. Colocar todas as mães das mesmas criancinhas em fila e dar na cara de todas elas. Depois dá vontade de procurar quem regula a temperatura por aqui e mandar baixar o sol, ô calorzinho danado! Pinga suor até debaixo da unha, quando de repente vem mais um abençoado e diz “você ainda não viu o sol de fevereiro”.

Passando o cinturão de miséria, no caminho de ida do aeroporto para casa, finalmente atingimos os cinturão de pobreza. Onde, os barracos da favela (ou musseques) desaparecem e prédios em condições deploráveis tomam conta da paisagem. Maloca total. É roupa pendurada pra tudo quanto é canto e uma poeira que sobe a níveis estratosféricos. Logo alcançamos o que nós expatriados chamamos de cidade alta, uns metros acima do nível do mar de onde se vê a baia, o porto e a ilha de Luanda, parte baladeira da cidade. Minha casa, bairro Miramar, onde o nome já explica a beleza do que de lá se avista.

Olhar o mar é sempre uma surpresa. Daqui da Africa, é como se olhar o Brasil de longe, de dentro da água. Uma água azul que mascara um pouco da pobreza e da miséria. Uma terra promissora, do diamante ao petróleo, da história de nossos ancestrais. Da história do avesso. Do outro lado de quem conta.