Quando eu decidi escrever esse blog foi meio no oba oba, por conta da minha amiga Guta, que me alugou um tempão, lembrando do meu antigo blog a respeito das minhas viagens. Viagens uma pinóia, né? Escrevi até a França e deixei tudo pra trás e a partir daí em diante, o pobre foi solenemente abandonado. A freak ana, é por incrível que pareça um nome carinhoso. Eu sabia que uma vez na África, eu, das mais diversas maneiras iria pirar.
Pirar com a riqueza da cultura, da música, da língua, das cores, dos sabores e dos amores. Pirar com a sujeira, a pobreza das ruas, as doenças, a fome… a miséria. Cá estou há duas semanas, e a pergunta que mais odeio quando me fazem aqui é: “Qual foi a sua primeira impressão?” Porra! (Essa é minha primeira resposta tanto para o alto staff quanto para a minha gente) É o tipo de pergunta cretina que você fica sem escapatória para responder. Se disser, “ah é normal”, é mentira. “ah muito sujo e muito pobre né?”, é muito óbvio e beira a idiotice da falta de opinião formada. O mais elaborado que consegui até agora foi “Ah, já estive em Timor Leste. Angola é pinto!”. Fora o meu deboche habitual e o meu sarcasmo genético, continua sendo tudo mentira. A primeira visão é de choque total. É de querer sair correndo e voltar pro avião, chegar em casa, abraçar a minha mãe e continuar a levar a minha vida de princesa. Daí bate a vergonha, do tipo “Pô, mó vacilo dar pra trás agora”. Vacilo é mesmo. Muita expectativa e gente envolvida. Mas que rola esse cagaço, rola meeeesmo.
Então você substitui essa primeira sensação por uma outra, utilizando como justificativa a questão da limpeza e praticidade. Então a minha segunda-primeira-visão é de pegar uma vassoura e sair recolhendo primeiro todo o lixo que tem esparramado. Pegar uma tina imensa de água rasa e dar banho em todas as criancinhas de menos de 3 anos que andam nas ruas sozinhas. Colocar todas as mães das mesmas criancinhas em fila e dar na cara de todas elas. Depois dá vontade de procurar quem regula a temperatura por aqui e mandar baixar o sol, ô calorzinho danado! Pinga suor até debaixo da unha, quando de repente vem mais um abençoado e diz “você ainda não viu o sol de fevereiro”.
Passando o cinturão de miséria, no caminho de ida do aeroporto para casa, finalmente atingimos os cinturão de pobreza. Onde, os barracos da favela (ou musseques) desaparecem e prédios em condições deploráveis tomam conta da paisagem. Maloca total. É roupa pendurada pra tudo quanto é canto e uma poeira que sobe a níveis estratosféricos. Logo alcançamos o que nós expatriados chamamos de cidade alta, uns metros acima do nível do mar de onde se vê a baia, o porto e a ilha de Luanda, parte baladeira da cidade. Minha casa, bairro Miramar, onde o nome já explica a beleza do que de lá se avista.
Olhar o mar é sempre uma surpresa. Daqui da Africa, é como se olhar o Brasil de longe, de dentro da água. Uma água azul que mascara um pouco da pobreza e da miséria. Uma terra promissora, do diamante ao petróleo, da história de nossos ancestrais. Da história do avesso. Do outro lado de quem conta.
4 comments:
Tá inaugurada essa bagaceira. Tu tem mais é que ralar mesmo, mulher. =) Abraços... Nandico
Boto fé Tatá.... concordo com o Fernando ...
Raaaalllaaa...
[]'s
Ilan
... já tá na roda ? ...
... migrante aguarda bandeira do fiscal de pista ...
... bjs ....
A Deus Benguela
A Deus, a Deus Benguela!
Mal de ti jamais direi
Da o mundo muita volta
Näo sei se cá tornarei
Ja cá estou na Europa
Näo me sinto aqui feliz
Muita gente á minha volta
Mas ninguém me fáz feliz
Que saudades täo sentidas,
Me custou, esse adeus
Que te dei à despedida
Fintando os olhos nos teus
Sou homem que quer chorar
E me sinto envergonhado
Choro e canto
Cancöes tuas tropicais
tudo isso è um incanto
Ajoelhei junto à praia
E posto aos pés de Benguela
Ela è um incanto
Fui pedir-lhe o seu amor…
Benguela suavamente sorria…
Benguela dá-me um beijo,
ai, näo me digas que näo
dá-me um só
para traze-lo
gravado no coracäo
BamzaPombo
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